quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Cultura e Arte: Paralelo entre a Imposição Mercadológica e a Indústria Cultural

Cultura e Arte: Paralelo entre a Imposição Mercadológica e a Indústria Cultural

Vivemos numa cultura do medo, em que até na rua andamos ‘rápido’, sem olhar para o lado, e se percebemos que têm alguém nos olhando fixamente já tratamos de mudar o rumo do caminho ou até, às vezes, chamamos a polícia.
Compramos telefones com bina, colocamos câmeras de “segurança” em nossas casas, construímos muros com mais de dois metros de altura, e ainda nos “protegemos” com uma cerca elétrica. Não saímos de casa à noite, é perigoso, não temos tempo de ir ao cinema, ao teatro, a um concerto ou até a um show, e nem dinheiro e nem disposição para tal atividade.
Por quê? Estamos inseridos nessa sociedade do medo que nos paralisa e nos domina, por que somos facilmente manipulados? Por quem somos manipulados? Estamos presos numa sociedade dominada pela Indústria Cultural (I.C.).
Na teoria kantiana temos o conceito de menor idade, causada pelo próprio homem, nela o homem é incapaz de fazer o uso de seu próprio entendimento sem a direção de outro indivíduo. Para Kant essa mudança no modo de pensar é lenta e gradual, um processo histórico e pessoal. O lema do esclarecimento kantiano é a coragem de fazer uso do próprio entendimento.
Para Kant existe a razão  emancipatória e a razão instrumental, de modo que a razão emancipatória nos liberta da dominação cultural, e a partir dela que nos tornamos críticos e senhores de nosso próprio entendimento. Quanto à razão instrumental está ligada diretamente a produção de ferramentas e conhecimentos sobre a natureza.
Uma aplicação prática é o “uso público” da razão e o “uso privado” da razão. No uso público o homem é um sábio e goza de uma liberdade ilimitada, por poder falar para todos e para o mundo, em seu próprio nome, o que produziu e descobriu. O uso privado relaciona-se com o uso da razão a partir dos cargos ou funções que ocupamos.
Adorno e Horkheimer vão ser uns dos maiores percussores dos pensamentos dispostos e discutidos na Escola de Frankfurt. Em seu livro “Dialética do Esclarecimento” vão tratar de analisar a sociedade atual.
A Dialética do Esclarecimento é dividida em cinco partes: O conceito de esclarecimento (se pautando nas ideias de Kant), Excurso I: Ulisses ou Mito e Esclarecimento – a astúcia de Ulisses, fisicamente fraco, porém inteligente o suficiente para sobreviver às potentes ‘forças naturais’ – Excurso II: Juliete ou Esclarecimento e Moral (elucida o quão forte está a influência dessa cultura industrial sobre a moral, e faz referências a Marquês de Sade, Nietsche e a Kant novamente), A Indústria Cultural – sendo que esta cria uma “falsa identidade do universal e do particular” – e por fim termina o livro com Elementos do Antissemitismos: Limites do Esclarecimento (faz um paralelo ressaltando a força que essa indústria ideológica possui com relação ao racismo).
Atualmente temos a transformação da razão emancipatória em razão instrumental, de modo que esta prioriza o domínio da natureza pelo homem e o domínio do homem sobre o próprio homem.
A Indústria Cultural impõe o consumo mercadológico da (‘falsa’) produção cultural e intelectual e sua conversão em mercadoria, este termo refere-se ao uso da tecnologia pelo mercado, tecnologias essas como a televisão, jornais, rádios (meios de comunicação em massa). Na sociedade dominada pela I.C. as mercadorias culturais são valorizadas pela perspectiva do lucro e não pelo seu próprio conteúdo.
Não podemos confundir Indústria Cultural com Cultura de Massa, a esta podemos nos reter às produções artístico culturais de uma determinada massa/povo, porém na I.C. possui padrões de repetição e universalização coma finalidade de formar uma estética ou percepção comum voltada ao consumismo.
A arte é a representação máxima da interpretação do artista (crítico) sobre o mundo, é um exemplo perfeito da identidade cultural do povo. Para Adorno é através da estética que possamos chegar a esse esclarecimento (emancipador, libertador) que Kant propunha, porque é por meio da arte que expressamos a nossa visão (crítica) racional do mundo, é a partir dela que entendemos o mundo.
Contudo a Indústria Cultural vem se apropriar dessa percepção artística, de modo que ela [a I.C.] “Universaliza” e “Repete”, táticas estas que condicionam o pensamento das massas. O que antes falava de forma individual, para cada leitor (como um quadro que se comunica de forma única com cada observador), hoje temos a universalidade, o locutor de rádio fala a mesma coisa em todos os cantos do planeta.
Para Adorno e Horkheimer vai ser essa repetição e generalização desmedida que vai brutalizar e dominar o pensamento crítico do homem. Uma verdadeira lavagem cerebral.
A I.C. converte tudo em mercadoria, ela molda o nosso pensamento de acordo com as suas necessidades. A razão instrumental (tão sonhada pelos positivistas de Conte), que viera para desmistificar os preceitos impostos pela religião vem “matematizar”, quantificar, generalizar tudo, de modo que ao invés de libertar, a ciência hoje vem aprisionar, pois a I.C. usa, abusa e comanda essas “novas tecnologias”.
Trocam-se de aparelhos celulares com a falsa ideia de “nova (e melhor) tecnologia”, como se o iphone 4 não tivesse as mesmas funções do que o iphone 5, o que muda é apenas o ‘modelo’, a data de fabricação, a estética.
A arte não é mais original, é formalizada, quantificada e aprisionada a metodologias, inquebráveis, e se caso façamos uma “arte” que não obedece às “leis da sociedade”, ou seja, a ‘tendência/moda’ estabelecia, somos avacalhados, marginalizados, sociedade esta que está nas mãos da I.C.
Os telejornais sempre mostrando a “violência”, a “realidade”, nos “alertando” o quanto é perigoso o mundo lá fora, o quanto é perigoso ser crítico! A arte (esculturas, pinturas, concertos) é algo desnecessário, antiquado, “ruim”. Na verdade o bom, o “massa”, o legal é o baile funk, a Vila Mix (esta iniciada as 15:00 horas com o intuito de ‘proteger’ a população), este é o tratamento que a arte recebe, por outro lado o belo é altamente perigoso, pois subverte o predomínio que a sobrevivência material deve ter, sob o ponto de vista que a Indústria Cultural quer que tenhamos, traduzidos na falsa civilização e no nosso falso prazer.

Gustavo Viana Penido – 3º ano de Eletrônica

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