Cultura e Arte: Paralelo entre a Imposição Mercadológica e a Indústria
Cultural
Vivemos numa cultura do medo, em
que até na rua andamos ‘rápido’, sem olhar para o lado, e se percebemos que têm
alguém nos olhando fixamente já tratamos de mudar o rumo do caminho ou até, às
vezes, chamamos a polícia.
Compramos telefones com bina,
colocamos câmeras de “segurança” em nossas casas, construímos muros com mais de
dois metros de altura, e ainda nos “protegemos” com uma cerca elétrica. Não saímos
de casa à noite, é perigoso, não temos tempo de ir ao cinema, ao teatro, a um
concerto ou até a um show, e nem dinheiro e nem disposição para tal atividade.
Por quê? Estamos inseridos nessa
sociedade do medo que nos paralisa e nos domina, por que somos facilmente
manipulados? Por quem somos manipulados? Estamos presos numa sociedade dominada
pela Indústria Cultural (I.C.).
Na teoria kantiana temos o
conceito de menor idade, causada pelo próprio homem, nela o homem é incapaz de
fazer o uso de seu próprio entendimento sem a direção de outro indivíduo. Para
Kant essa mudança no modo de pensar é lenta e gradual, um processo histórico e
pessoal. O lema do esclarecimento kantiano é a coragem de fazer uso do próprio
entendimento.
Para Kant existe a razão emancipatória e a razão instrumental, de modo
que a razão emancipatória nos liberta da dominação cultural, e a partir dela
que nos tornamos críticos e senhores de nosso próprio entendimento. Quanto à
razão instrumental está ligada diretamente a produção de ferramentas e
conhecimentos sobre a natureza.
Uma aplicação prática é o “uso
público” da razão e o “uso privado” da razão. No uso público o homem é um sábio
e goza de uma liberdade ilimitada, por poder falar para todos e para o mundo,
em seu próprio nome, o que produziu e descobriu. O uso privado relaciona-se com
o uso da razão a partir dos cargos ou funções que ocupamos.
Adorno e Horkheimer vão ser uns
dos maiores percussores dos pensamentos dispostos e discutidos na Escola de
Frankfurt. Em seu livro “Dialética do Esclarecimento” vão tratar de analisar a sociedade
atual.
A Dialética do Esclarecimento é
dividida em cinco partes: O conceito de esclarecimento (se pautando nas ideias
de Kant), Excurso I: Ulisses ou Mito e Esclarecimento – a astúcia de Ulisses,
fisicamente fraco, porém inteligente o suficiente para sobreviver às potentes ‘forças
naturais’ – Excurso II: Juliete ou Esclarecimento e Moral (elucida o quão forte
está a influência dessa cultura industrial sobre a moral, e faz referências a
Marquês de Sade, Nietsche e a Kant novamente), A Indústria Cultural – sendo que
esta cria uma “falsa identidade do universal e do particular” – e por fim
termina o livro com Elementos do Antissemitismos: Limites do Esclarecimento (faz
um paralelo ressaltando a força que essa indústria ideológica possui com
relação ao racismo).
Atualmente temos a transformação
da razão emancipatória em razão instrumental, de modo que esta prioriza o
domínio da natureza pelo homem e o domínio do homem sobre o próprio homem.
A Indústria Cultural impõe o
consumo mercadológico da (‘falsa’) produção cultural e intelectual e sua conversão
em mercadoria, este termo refere-se ao uso da tecnologia pelo mercado,
tecnologias essas como a televisão, jornais, rádios (meios de comunicação em
massa). Na sociedade dominada pela I.C. as mercadorias culturais são
valorizadas pela perspectiva do lucro e não pelo seu próprio conteúdo.
Não podemos confundir Indústria
Cultural com Cultura de Massa, a esta podemos nos reter às produções artístico
culturais de uma determinada massa/povo, porém na I.C. possui padrões de
repetição e universalização coma finalidade de formar uma estética ou percepção
comum voltada ao consumismo.
A arte é a representação máxima
da interpretação do artista (crítico) sobre o mundo, é um exemplo perfeito da
identidade cultural do povo. Para Adorno é através da estética que possamos chegar
a esse esclarecimento (emancipador, libertador) que Kant propunha, porque é por
meio da arte que expressamos a nossa visão (crítica) racional do mundo, é a
partir dela que entendemos o mundo.
Contudo a Indústria Cultural vem se
apropriar dessa percepção artística, de modo que ela [a I.C.] “Universaliza” e “Repete”,
táticas estas que condicionam o pensamento das massas. O que antes falava de
forma individual, para cada leitor (como um quadro que se comunica de forma
única com cada observador), hoje temos a universalidade, o locutor de rádio
fala a mesma coisa em todos os cantos do planeta.
Para Adorno e Horkheimer vai ser
essa repetição e generalização desmedida que vai brutalizar e dominar o
pensamento crítico do homem. Uma verdadeira lavagem cerebral.
A I.C. converte tudo em
mercadoria, ela molda o nosso pensamento de acordo com as suas necessidades. A
razão instrumental (tão sonhada pelos positivistas de Conte), que viera para
desmistificar os preceitos impostos pela religião vem “matematizar”,
quantificar, generalizar tudo, de modo que ao invés de libertar, a ciência hoje
vem aprisionar, pois a I.C. usa, abusa e comanda essas “novas tecnologias”.
Trocam-se de aparelhos celulares
com a falsa ideia de “nova (e melhor) tecnologia”, como se o iphone 4 não
tivesse as mesmas funções do que o iphone 5, o que muda é apenas o ‘modelo’, a
data de fabricação, a estética.
A arte não é mais original, é formalizada,
quantificada e aprisionada a metodologias, inquebráveis, e se caso façamos uma “arte”
que não obedece às “leis da sociedade”, ou seja, a ‘tendência/moda’
estabelecia, somos avacalhados, marginalizados, sociedade esta que está nas mãos
da I.C.
Os telejornais sempre mostrando a
“violência”, a “realidade”, nos “alertando” o quanto é perigoso o mundo lá
fora, o quanto é perigoso ser crítico! A arte (esculturas, pinturas, concertos)
é algo desnecessário, antiquado, “ruim”. Na verdade o bom, o “massa”, o legal é
o baile funk, a Vila Mix (esta iniciada as 15:00 horas com o intuito de ‘proteger’
a população), este é o tratamento que a arte recebe, por outro lado o belo é
altamente perigoso, pois subverte o predomínio que a sobrevivência material
deve ter, sob o ponto de vista que a Indústria Cultural quer que tenhamos,
traduzidos na falsa civilização e no nosso falso prazer.
Gustavo Viana Penido – 3º ano de Eletrônica
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